[ Chope Corporativo ]

Este texto é o primeiro de uma parceria entre o blog chamberlaws e o Viciado Carioca, que irá mandar algumas das suas fantásticas histórias para entreter o leitor chamber com sua costumeira sagacidade.

Chope corporativo

Na droga do bar, outra vez. Eu e os mosquitos. Calor dos infernos. A porra do verão vai chegando e atrai todo tipo de criatura esquisita para o boteco. Bêbados, putas, estudantes, trabalhadores e todo o resto da corja de pessoas vazias. E, é claro, a droga dos mosquitos.

Eu acendo um Marlboro e pergunto ao garçom quando foi a última vez que eles lavaram aquele maldito copo. Ele sorri, pede desculpas e fala que vai trocar o meu chopp. Eu tenho certeza que o três próximos serão cuspidos. Sem problemas. Prefiro as enzimas à sujeira.

Ela me pergunta qual seria o melhor lugar para morrer. Eu respondo que dentro de uma buceta. Outro cara me repreende dizendo que eu não passo falar "buceta" na frente das meninas. Eu respondo com uma interjeição:

- Caralho!

Um outro cara ri. Ele faz cara de mau. Eu explico que essa é a melhor forma de morrer porque fecha o ciclo da vida. "De lá viemos, pra lá voltaremos". Uma outra menina concorda. Ele me diz que eu deveria ter escolhido "vagina" e eu falo que eu não conheço alguém que tem uma desde a sexta série.

- Você é um babaca. Não devia falar assim na frente das meninas.

- E não falo. Só uso esse palavreado quando estou na frente de mulheres.

Opa. Ganhei moral. Elas concordam. Gostam de ser respeitadas. Ele resmunga alguma coisa e uma outra fala que gostaria de conhecer a China antes de morrer.

- Você não gostaria, Vic?

- Claro, eu adoro pastel.

Esses chopes coorporativos são tão óbvios. Eles pedem três porções de batata. Eu vou até o banheiro. Impressionante. O banheiro é tão limpo que dá para comer no chão. Eu comeria a fã dos chineses naquele chão sem pensar duas vezes. Ela parece ter uma bela buce.. digo, vagina. O banheiro é tão limpo que eu me sinto em um shopping. Fico até assustado.

Volto para a mesa e a droga dos mosquitos. Eles (as pessoas e não os insetos) estão falando agora sobre trabalho. Projetos, metas, implementar não sei o que, reunião... um monte de palavras que eu gostaria de riscar do meu vocabulário. Depois de dez horas trabalhando o que esses caras fazem? Vão para um bar falar de trabalho. No meu bar será proibido falar sobre trabalho. E falar vagina também. Eles dão uma brecha e eu mudo de assunto:

- Acho que serigüela é a palavra mais engraçada que eu conheço.

Eles me olham assustados. Uma outra fala:

- Eu gosto de bugiganga. – uma outra sorri e fala:

- Eu gosto de pif-paf.

Agora sim estamos nos entendendo. Acho que o momento certo de você puxar o papo sobre palavras engraçadas é entre o quarto e o quinto chope. Depois disso o papo começa a fluir. O malandro ainda me olha com cara de mau. Eu sorrio e digo:

- Deixa eu tentar descobrir, a sua palavra predileta é pênis? – as pessoas riem e ele responde

- Não! É... – ele pensa e eu complemento:

- Caralho? – porra, o cara virou chacota. Ele tenta falar algo mas eu complemento:

- Eu sei, eu sei.. não deveria falar palavrão na frente das meninas. Pode me mandar tomar no cú. Eu estou errado.

Não sei porque eu fiquei sacaneando esse cara. Não tem nenhuma chance de eu comer alguém aqui. Não que eu não queira. Comeria algumas amigas de trabalho. Eu só não sei como me comportar. Fora o medo de ir trabalhar no dia seguinte. Se trabalhar já é ruim, imagina com uma maluca te perseguindo dentro do escritório.

O momento certo de você cair fora de um chope corporativo é entre a oitava e a nona rodada. Muitas vezes você arruma carona, joga muito menos que você consumiu na mesa e saí por cima. Eu sei que se eu chegar ao décimo chope vou fazer de tudo para não dormir sozinho. E não posso fazer isso. Nem sei que cueca eu estou vestindo.

- Quer carona, Vic? – Não faça isso. Você é uma bela mulata e eu estou bem perto de chegar ao décimo chope. Eu não quero nenhuma maluca me perseguindo no escritório, com a sua bucet..digo vagina com saudades de um dia cheio de mosquitos.

- Com você eu vou até a China e morro por lá mesmo. - Eu deveria usar mais o banheiro do shopping. Entro no carro e seguimos pela cidade.

- Calor dos infernos! Por que você não liga esse ar, boneca?

- Porque você não apaga esse cigarro e me para de chamar de boneca?

- Foi mal, depois do sétimo chope eu sempre penso que estou em um filme "noir".

- Essa é uma palavra engraçada. "Noir".

- Então você estava prestando atenção no meu papo, boneca?

- O tempo todo!

- Isso é tão bom como procurar algum lugar para morrer.

- É Vic, mas acho que o máximo que você consegue hoje é um suicídio.

- Muito engraçado, boneca. Muito engraçado. – Eu odeio o meu trabalho.