[ O Talismã ]

Caros leitores, está no ar mais um post da parceria com o Viciado Carioca. Este texto foi originalmente publicado em seu antigo blog na data de 20/10/2006. Boa leitura.

O Talismã

Estava puto da vida. Muito puto. Puto mesmo. Em resumo, puto pra caralho. Já tinha tentado de tudo. Foi professor, médico, dentista, padre, frentista, carteiro, contínuo, bancário, atendente de telemarketing, chefe de gabinete, radialista, camelô, trocador, go go boy e marceneiro. Finalmente encontrou uma coisa que lhe agradava. Decidiu ser vagabundo por profissão.


No primeiro dia foi tudo muito bem. Muito bem mesmo. Em resumo, bem pra caralho. Ficou sentado em baixo de uma marquise e não fez nada. Às vezes deitava e dormia. Às vezes deitava só para ver as pernas das gostosas que passavam para um lado e para o outro. E às vezes cantava algumas velhas canções do Élson do Forrógode. "Seu amor me faz viver; Quero ser o teu querer; Vou viver vou viajar; Vou relaxar; Ter prazer no teu prazer; Ver nós dois num só querer; Depois gritar de tanto amar ; Ilaê, ilaê, ilaê, iê, iê, iê". Não existia vida melhor.

No segundo dia ficou com fome. Muita fome. Fome mesmo. Em resumo, fome pra caralho. Olhou nos bolsos e percebeu que estavam vazios. Tinha que fazer alguma coisa para ganhar dinheiro. Não tinha dinheiro nem pra comprar um frasco de desodorante vazio, encher de sabão e limpar retrovisores. Tava fudidão. Mais fudido que o Élson do Forrógode. Onde ele estaria agora?

No terceiro dia começou a delirar. Delirar mesmo. Em resumo, delirar pra caralho. Ficava na rua cantando músicas do Élson do Forrógode pra qualquer um:

Por um Real eu canto Talismã.

Na versão do Leandro e Leonardo?

Não do Élson do Forrógode!

Que se foda o Élson e o seu Forrógode!

Não ia se dar por vencido. Parou um outro homem na rua e mandou:

Por um Real eu canto Talismã.

Caramba! Eu amo essa música, canta aí!

Sabe, Quanto tempo não te vejo...

Não porra! Eu quero a Talismã do Alceu Valença! Diana, Me dê um Talismã...

Mas eu só sei a do Élson do Forrógode!

Que se foda o Élson e o seu Forrógode!

Tinha que fazer uma terceira tentativa. Parou uma menina e:

Por um Real eu canto Talismã.

Aquela da Angélica?

Da Angélica? A Angélica também tem uma música chamada Talismã?

Tem sim! Ela é mais ou menos assim: Sabe, Quanto tempo não te vejo...

Essa música não é da Angélica! Ela é do Élson!

Élson? Que Élson?

Élson do Forrógode!

Que se foda o Élson e o seu Forrógode!

No quarto dia ficou rico. Muito rico. Rico mesmo. Em resumo, rico pra caralho. Tudo por conta de uma idéia genial. Parava as pessoas na rua e ameaçava elas:

Se você não me arrumar um Real eu vou te cantar uma música do Élson do Forrógode!

Qual? Jeito Atrevido?

Não, Talismã!

Ai, toma cincão e fica quieto.

No quinto dia ficou uma merda. Merda e pronto. A notícia tinha se espalhado por toda a cidade e agora havia vários mendigos ameaçando as pessoas com as músicas do Élson do Forrógode. A bolha estourou. As pessoas nem se importavam mais com o Talismã. Muito menos com o "Ilaê, ilaê, ilaê, iê, iê, iê" do Jeito Atrevido. Élson virou uma celebridade. Foi no Faustão e no Gugu no mesmo Domingo. Pessoas gravavam vídeos cantando Talismã e colocavam no You Tube. Uma gostosa apareceu em um show de rock com uma camisa escrita "Élson Lives" e virou a sensação da noite. Fizeram uma versão eletrônica de Jeito Atrevido que explodia em todas as rave. Élson ganhou dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro mesmo. Dinheiro pra caralho.

O nosso amigo se aposentou. Foi realizar o sonho da sua vida. Comprou uma casa em Sorocaba e encomendou toda a bibliografia do Stephen King. Pra escolher por qual livro ele começava, não teve dúvida: O Talismã.

Moral da história: Stephen King é bom. Bom mesmo. Bom pra caralho. Qualquer coisa vale a pena para ler um livro do Stephen King. Até mesmo cantar Élson do Forrógode. Ilaê, ilaê, ilaê, iê, iê, iê.

Prestigiem também o blog do Viciado, de layout novo e com texto inéditos. E claro, também fique por dentro do lançamento do DVD "Fazendo as Regras", baseando em contos dele próprio. Vale a pena!

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