Não é de espantar que o Patolino tenha personalidade dupla.
Quando surgiu, o pato era maníaco, explosivo, imprevisível. Vivia metido em aventuras que até para ele eram absurdas.
À medida que sua personalidade ganhou em complexidade cortesia dos diretores de animação da Warner Bros. o patinho negro virou um sujeito mais questionador, competitivo, rabugento, paranóico, neurótico.
A uma certa altura, o Patolino descobriu que vivia, mais e mais, à mercê de um universo que favorecia aparentemente todos, exceto ele.
De onde vem, então, seu sucesso de público? É que, apesar dos pesares, o Patolino é uma espécie de Sísifo, o herói da mitologia grega: é uma vítima perene da injustiça. Só que não pára de chiar.
É justamente da recusa em se render aos caprichos de um universo conspiratório que vem seu heroísmo. Afinal, quem não se condói com o calvário de um pato desajeitado, com uma voz de lascar, em cuja porta a sorte nunca bate?
Pelo menos, o Patolino sonha alto. E quando acorda, volta a sonhar mais alto ainda
O pato pode até viver para endireitar o bico e recolher, do chão, o que sobrou da sua dignidade. Uma coisa, porém, o Patolino sempre leva, embora para seu azar nunca escute: a gargalhada satisfeita do público.
O pato pode até viver para endireitar o bico e recolher, do chão, o que sobrou da sua dignidade. Uma coisa, porém, o Patolino sempre leva, embora para seu azar nunca escute: a gargalhada satisfeita do público.